Ainda hoje me lembro Era manhã de setembro De Sol com intenso brilho Eu, à frente, abrindo as covas Chiquinha, menina nova Vinha atrás plantando o milho O Sol dava um bronzeado No seu corpinho rosado Lhe dando uma cor morena Cada grão que ela plantava Uma esperança brotava Como brota uma açucena A natureza não erra Vi os grãos rachando a terra E o broto nasceu robusto Em cada braça do eito Coração roçava o peito Como o vento no arbusto O milho cresceu depressa Parecia uma promessa Na minha boca granando E no tempo da colheita Chiquinha, menina feita Era espiga se empalhando Numa tarde de pamonha Eu, sem jeito, com vergonha Já pressentia o perigo Fui buscar no milharal Mais milho para o curau E Chiquinha foi comigo Quebrando milho na chuva Eu tropeçava nas curvas Do seu corpinho molhado Debaixo do pé de milho Como espigas no atilho Ficamos os dois atados Passou o ano e desta feita Vou fazer outra colheita O tempo foi bom pro milho Enquanto os pés soltam espigas Chiquinha solta a barriga Pra colhermos nosso filho