O ambiente tá calmo, o movimento tranquilo Chegou a hora, manos, dedo no gatilho Eu tomo a portaria, vocês enquadram os bico Se o mão branca piscar, é aquilo Não tô de brincadeira, vim pra buscar Quero esse malote e vou levar Custe o que custar, ninguém vai me parar Que Deus me abençoe e me ajude a voltar Reinaldo, voz ativa na quebrada Respeitado, bem visto pela rapaziada Um cara justo em qualquer situação Lado a lado, parceiro sangue bom Há quatro meses saiu da detenção Reincidente, 157 bom ladrão De ponta a ponta, foram 5 anos Mó saudade da família, dos manos Saiu dizendo que pra lá não volta mais Vai ficar de boa, vai ficar na paz Alguns comparsas fazem convites Mas ele, na fé, não se empolga, resiste Não quer se envolver, prefere esquecer O tempo na prisão só lhe fez sofrer Conhece bem a real do lugar Ser preso novamente seria como se matar O tempo passa e a melhora não vem Nada de novo, nada anda bem Quando criança, ele era esperança Mas lhe deram a favela como herança Entre becos e vielas, era aquilo Drogas, tretas, calibres, tiros Essas paradas são um convite ao prazer Quem pode mais chora menos, pode crer Por pouco tempo, você tem o que quer Carros de luxo, dinheiro, mulher Na maioria das vezes, é assim Você mesmo planeja seu fim Mas isso sem saber, sem perceber No Brasil, a TV que educa você Um cara certo no lugar errado O problema não é ser favelado O problema é não ter orgulho Não ser incentivado, não ter estudo Tudo isso pra favela é negado A intenção é que o povo seja limitado O barato é louco e o processo é lento Questão de tempo ir pro arrebento Sem um trampo, sem dinheiro A necessidade lado a lado o tempo inteiro Ex-presidiário não inspira confiança Todos querem tê-lo à distância Só a família é quem chega passo a passo Mas o dinheiro da coroa tá escasso Manter a calma ele tenta Diante do problema ele pensa Ela já me criou, chegou a minha vez Quero retribuir o que ela já fez Amanhã vou até o bar do Dito Espero conseguir aquele bico Manhã chuvosa, o dia começa Me sinto angustiado, que porra é essa? Rezo um Pai Nosso, peço proteção Peço a Deus que alguém me estenda a mão Minha mãe me deseja sorte Em pensamentos deseja que eu volte Meu filho, vai com Deus Que Deus te acompanhe, vê se não demora Eu tô te esperando Na rua do bar, posso ganhar Vários carros estacionados lá Intuição é foda, quem é tem instinto Hoje é segunda e do mês dia cinco Me aproximando, começo a entender Alguma coisa tá pra acontecer Quatro homens conhecidos na mesa Um dos manos me oferece cerveja Como não bebo, a breja não quis Mas o mano levanta, me abraça e diz Aí, Reinaldo, eu te conheço bem Catador aqui na área igual não tem No nosso time tá faltando um irmão A fita é dada, ladrão, mó mamão Digo que não, me esquivo Nem pensar em voltar pro distrito Neste momento, preciso ser forte Aí, maluco, eu não vou, mas boa sorte Volto atenção pro dono do bar Falô, Dito, e aquela vaga vai me arrumar? Aí, Reinaldo, tá brabo, irmão O movimento tá embaçado Eu tô no maior sufoco Ultimamente tô vivendo só de fé Você entende, né? Firmeza total, aí, fica na fé Sinto na veia meu sangue ferver O que faço, fazer o quê? Na garganta, um nó, o corpo treme Aqui é o crime e não o creme Lá na goma tá tudo esquisito Pagar as contas, comer, é preciso O que me resta, não tô querendo Mas não tô podendo ficar sofrendo Talvez eu vá e consiga voltar Cadeia novamente? Aí, nem pensar