Existe uma aspereza Na fibra da madeira que sustenta a telha No ferro desta viga que sustenta a casa Que perdura sobre a terra E a terra come os que, hoje, são nada E quando eu crescer Eu compro aquela casa Eu virei gente ali As plantas viram coisas que só eu quem vi Com esses meus olhos que hão de se ruir Eu vou Me medir no batente daquela porta Eu sou maior agora e nada disso importa Mais Me conte hipérboles, sentimentais Enquanto eu sonho com metrópoles E penso se eu fosse criança outra vez Nas ruas do Altinópolis A última vez que fui feliz, era menina ainda Guarda essa memória em resina VHS, joelho ralado As cigarras cantam, rádio ligado Cigarro aceso, era dois mil e quatro Eu vi, você viu Num tinha asfalto Minha noção de mundo era Rua do Planalto Do nosso terraço, a cidade do alto Faltou muito em mim e hoje eu também falto No tempo eu salto, no tempo eu salto Pseudo artista de cubículo Escrevi tanto, a vida toda, pra ninguém Eu abracei o meu ridículo Ouve bem O som do sangue nos meus ventrículos Quem inventou essa mentira do triunfo pelo esforço Se a lança me atravessa, calcifica no meu osso? Jorra água e sangue Eu me lembro do colostro De onde nós viemos e esquecemos do percurso Eu tenho mesmo é ódio do meu ócio tão escasso Meu corpo repousa, mas eu não descanso Pra viver, eu mato o tempo, em ponta de cigarro Amasso outro maço e o coração amanso Porra, eu nunca mudo A última vez que fui feliz, era menina ainda Então guarda essa memória em resina VHS, joelho ralado As cigarras cantam, rádio ligado Cigarro aceso, era dois mil e quatro Eu vi, você viu Num tinha asfalto Minha noção de mundo era Rua do Planalto Do nosso terraço, a cidade do alto Faltou muito em mim e hoje eu também falto No tempo eu salto, no tempo eu salto