Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro Recosto a face sobre o papel Encharcando de chuva de ontem E cuspe e lágrima e suor febril Da noite que mal se despediu e ameaça voltar Ouço no rádio a canção que não toca No dial fora de sintonia Mas aterra sem cuidado em meu peito A ínfima tristeza de um acorde qualquer No vão da parede Que meus pés empurram de cima da cama Repousa o cobertor embolado Embolorado de reboco e saudade Do minuto pior Que antes não causava repúdio ou tédio Quer descer deste mundo E entrar devagar pela porta entreaberta Que insinua sisuda e mal humorada Pra não ser o riso, arma eficaz Contra este choro contido que teima em não cair?