Arranjei um diabo esperto Pra me jogar neste mundo E pulei, braços abertos Como um tarzan tremembundo Emprestei de Deus um diabo Pra seguir na minha frente Seguro naquele rabo Guardado pelo tridente Dei-lhe um nomezinho: Anhanga Ficou tão feliz, coitado Dou-lhe a casca, chupo a manga E ele sempre do meu lado Peguei o diabo magrinho Que o senhor me concedia Fiz dele avô, pai, padrinho Mãe, rabo-de-saia e tia Enganei o seu tavares E mandei cobrar do demo Ele penou reza, altares Perdeu tudo e eu nem tremo Conheci com a felizmina Treze anos, sete estados Ela velho eu u’a menina Feliz eu, destrambelhado Ensinei as escrituras Pra onze padres, pastores E um monte de diabruras Pra senhoras e senhores E foi nessa de viagem Que achei de voltar pra casa Num navio de cabotagem Mas falto de um par de asa O meu diabinho safado Ficou triste da partida Mofino, rúim, definhado Fincou pé na despedida Não queria nem por nada Trocar seu mundo de água Pela seca, pela estrada Fez beicinho, ar de mágoa Do nordeste pra Amazônia Veio que veio o pobre Mas agora era um pamonha Até pro tilinto do cobre E eu que sempre nos sotaques Desviava qualquer zanga Vi que naqueles achaques Perdia meu pobre anhanga O danado ergueu tapera Plantou tajá, cavou poço Até mão de moça eras! Pediu ao pai, pobre moço Perdeu todos os poderes Me devolveu num soluço Com todos os meus haveres Meu casaco cáqui ruço Mas exigiu a viola Que eu trago, trouxe e trazia Como pagamento, esmola Pelos anos de porfia E eu daqui agora agreste Às vezes parece que escuto Um som triste como a peste A voz de um diabo matuto