Se um dia um anjo do céu Viesse trazer o recado De que o mundo de meu Deus Estaria condenado Eu pensaria nos frutos De cada passo já dado E me ajeitava pra o fim Mas com ela do meu lado Junto dela abri caminhos Desde os tempos de criança Falquejando uma forquilha Pras brincadeiras na estância Até os fletes de taquara Que escramuçava com ânsia Eram moldados no fio Da minha xerenga da infância Faquinha de propaganda Dalguma cooperativa Presente do meu avô Memória que trago viva Outras facas vieram vindo Porque a história é imperativa Tanto leva quanto busca Feito peão de comitiva Faca se usa pra tudo Desde o parto até a sangria Nos desenleia de um laço Nos livra da covardia Se atora um loro de pronto Nas lidas do dia a dia E desquina algum assado Nos momentos de alegria São todas a mesma faca Basta estarem na minha mão Nunca foram pra negócio Por serem minha extensão Aço que enverga e não quebra Feito amizade de irmão A essência do gauchismo Forjada no coração Então se viesse o tal anjo Antecipando a escritura Com pilcha eu nem me importava Ia guardar a postura De quem viveu sem riqueza Mas que fez boa figura De cabeça bem erguida E uma faca na cintura