Eu tinha no peito o clarão das alvoradas, O furor dessas potradas que galopam desatinos. Queria ser destino em vez de ser pegada Queria ser chegada em vez de ser caminho Eu tinha o momento a comandar os passos, E nos meus abraços sempre um novo adeus Queria ter o céu abrindo as madrugadas Pras loucas disparadas dos anseios meus. Eu tinha rompantes nesses tempos moços Pelos alvoroços que essa idade faz Queria ser capaz de andar pechando touros E os desaforos não deixar pra trás Queria ter no verbo o fio das adagas Queria ter na alma sonho e viração Queria ter nos olhos dois peraus profundos Queria ter o mundo no calor das mãos Eu tinha comigo a inconstância dessas horas O coração nas esporas fazendo meu calendário Só queria o necessário pra sustentar a existência Pois pensava que a experiência não ficava pra inventário Eu sempre tive pressa mas chegava ao nada E a minha estrada foi chegando ao fim Eu não queria assim ficar aqui sozinho Olhando meu caminho não ir além de mim Eu tinha rompantes nesses tempos moços Pelos alvoroços que essa idade faz Queria ser capaz de andar pechando touros E os desaforos não deixar pra trás Queria ter no verbo o fio das adagas Queria ter na alma sonho e viração Queria ter nos olhos dois peraus profundos Queria ter o mundo no calor das mãos