Quem vai na estrada de Pedrouços Vê um néon que reluz É hora de dormir, na casa de repouso A que chamam: Bom Jesus Diz que foi ali que um dia Num casebre sem luz Sem parteira, sem arcanjo ou estrela guia Veio ao mundo um tal Jesus Quanto ao pai, ninguém sabia Dizer ao certo o paradeiro Triste sina duma tal Maria Do lugar do Brás Oleiro Moça de boa virtude Prometida ao carpinteiro Jurava que isto era obra de algum rude E tosco santo trapaceiro Confiou o bom menino À Nossa Senhora do Ó Nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima De Nogueira a Milheirós O abade ao ver a sua Santa aura em contraluz Por ser coisa vinda das alturas Pôs-lhe o nome de Jesus O menino foi medrando Na esmerada educação Das reguadas que lhe fora ministrando O amargo capelão Por dar sopa a um vagabundo Apanhou dum cacetete Correu tudo que era minifúndio Sem sequer um canivete Ao fugir da tutoria Disse adeus à juventude A giesta viu nascer naquele dia O seu próprio Robin Hood Nas margens do rio Leça Sentiu um calor no peito Disse-lhe uma pomba filho, vai depressa Redimir o mundo a eito Mas nessa sexta feira santa Veio um carro do inem Alguém viu Jesus tapado por uma manta Num aparato de sirenes De Ermesinde a Carrapeço Todos rezam ao Senhor Mas no fundo anseiam é pelo regresso De Jesus, o redentor Já se abriu uma clareira Jesus fala à multidão E já se ouvem ao longe os passos da enfermeira Que traz a medicação Mandou reforçar a dose E vai apagar a luz É hora de dormir, na casa de repouso A que chamam: Bom Jesus