Um palmo e pico de aço, rude e glorioso pedaço da espada de um general. Cabo de prata estrangeira - velha faca brigadeira que nunca me deixou mal. Nesse tempo eu era moço, não tinha o sangue tão grosso nem a memória tão fraca. Índio gaudério sem marca era maior que um monarca quando empunhava essa faca. Mas não era compra-briga, desses que enchem a barriga em bochinchos de galpão. Mui amigo do sossego não arriscava o pelego em "rolos" sem precisão. Mas quando lá volta e meia me entreverava em peleia por honra ou obrigação, afrontava qualquer risco e essa faca era um corisco brigando na minha mão. Sei que há quem ria disso: - a faca tinha feitiço, coisa botada, sei lá! Se escapava da bainha e ia brigar sozinha se eu deixasse ela brigar! Mas Dom Tempo barbaçudo que dá sumiço em tudo, coisa viva e coisa morta, foi-se chegando ronceiro, cruzou sem pressa o terreiro, passou depois pela porta. Quantas vezes já nem lembro, vi enfeitar-se setembro com as flores roxas do ipé. Do moço de antigamente resta este trapo de gente que mal e mal fica em pé... E a velha faca amigaça me acompanhou na desgraça, me aparceirou na miséria. - Extraviada da bainha, ainda lá pela cozinha nas mãos da negra Quitéria.