Tua voz cortava o ar como faca no pão Ariano de alma acesa, dono da contramão Teus olhos verdes eram farol, eram trovão E eu, castanho feito chão, só queria paz e um pouco de razão Tu vinha correndo, quebrando silêncio Trazia o caos, mas também o sustento Brigava por nada, sorria por tudo Era verão no peito e inverno no mundo E eu não sabia te amar do teu jeito Me escondia no meu canto, com medo no peito Mas no fundo, toda raiva era só disfarce Porque amar demais também parte Verde e castanho, fogo e mar Dois irmãos tentando se encontrar Tu partiu sem deixar bilhete, nem sinal E eu fiquei com tua ausência no meu quintal Lembro do dia em que tu sumiu da calçada O céu pesou, e a casa ficou calada O mundo virou cinza, meu irmão de luz A estrela que briga, mas sempre reluz Tu era grito, eu era reza Tu era lança, eu era mesa Mas entre guerra e abraço, era amor o que sobrou E agora tua falta é tudo o que ficou Verde e castanho, fogo e mar Duas metades que voltam a se procurar Tu voou sem me dizer se era hora Mas te vejo em sonho, me chamando lá de fora Se existe outro tempo, outro plano, outro chão Me espera na beira, com o mesmo olhar de irmão Teus olhos verdes… Ainda me guiam na escuridão