Dorme, vaqueiro, teu sono Que o sono eterno é a luz Despertarás aboiando No céu lindo de Jesus Dorme, vaqueiro, teu sono Meu Pai eterno e divino Pedir inspiração vou Pra deixar sobre um vaqueiro Que o ventre puro gerou Campeão dos campeões Que o Ceará criou Dorme, vaqueiro, teu sono Foi ele Valdemar Pedro Vaqueiro bravio e humano Nascido em Araújo Lugarejo puritano De Rússia, do Ceará No sertão Jaguaribano Dorme, vaqueiro, teu sono Filho de Manoel Pedro E da esposa Maria Por o pai se chamar Pedro O nome do pai seguia Era por Valdemar Pedro Que o povo o conhecia Dorme, vaqueiro, teu sono Foi primeiro em segundo Pra ser vaqueiro nasceu Ninguém não o superou Na profissão que Deus deu Com sessenta e oito anos Valdemar Pedro morreu Dorme, vaqueiro, teu sono Com onze anos de idade Já era bom montador Tornou-se famoso jockey De cavalo corredor No que Valdemar montava Era sempre o vencedor Dorme, vaqueiro, teu sono Campear gado e montar Era o que ele queria Se montava em burro bravo Burro pulava e gemia Podia cair os dois Mas ele só não caía Dorme, vaqueiro, teu sono Aí tornou-se vaqueiro O melhor da região Chamavam até de quebra Mandinga de barbatão Triste do rabo do boi Que ele botasse a mão Dorme, vaqueiro, teu sono Nunca temeu a carrasco Madeira, toco ou regato Tanto era bom na pista Como era bom no mato Forte que só um leão E ligeiro que só um gato Dorme, vaqueiro, teu sono Pra pega de boi valente Valdemar era chamado No que tivesse encanto Por ele era encontrado Que Valdemar tinha faro Que cachorro ensinado Dorme, vaqueiro, teu sono Não existiu mandigueiro Pra ele não pôr a mão Muitos diziam que ele Tinha uma forte oração Só sei que Valdemar era Assombro na profissão Dorme, vaqueiro, teu sono Cavalo grande ou pequeno Ele sabia ajeitar Não sei como tinha tanto Jeito pra domesticar Que cavalo nas mãos dele Só não fazia falar Dorme, vaqueiro, teu sono Em Aracati um dia Valdemar foi convidado Pois tinha um barbatão Há muito tempo encantado Bem um mês perseguido Sem vaqueiro ter pegado Dorme, vaqueiro, teu sono Valdemar foi num cavalo Conhecido por Pedrês Maior do que um jumento Coisinha pouca talvez Ninguém dizia que aquilo Servisse pra pegar rês Dorme, vaqueiro, teu sono Quando chegou na fazenda Serviu de divertimento Vaqueiro não o conhecia Perguntavam num momento Para onde o senhor vai Montado nesse jumento? Dorme, vaqueiro, teu sono Valdemar respondeu rindo Ajudar pegar a rês O meu cavalo com esses Talvez que não tenha vez Serve ao menos pra comer A poeira de vocês Dorme, vaqueiro, teu sono Bem dez vaqueiros entraram No mato à disposição Valdemar, de vez em quando Apontava com a mão E dizia: É para cá Que está o barbatão Dorme, vaqueiro, teu sono Com pouco tempo saíram Em cima do mandigueiro Valdemar gritou: Boi é aquele E é ligeiro! E uns diziam: Como sabe Se é o campo primeiro? Dorme, vaqueiro, teu sono Valdemar botou em cima O Pedrês, o boi correu A vaqueirama só viu Quando a mata virou breu Valdemar, cavalo e boi Logo desapareceu Dorme, vaqueiro, teu sono Com meia hora depois Foi que chegaram pertinho Encontraram Valdemar O touro e o cavalinho Já tinha piado o bicho E mascarado sozinho Dorme, vaqueiro, teu sono Um segredo ou um mistério com Valdemar existia Touro não lhe tapeava, medo não lhe perseguia Conhecia o mato estranho como a roupa que vestia Dorme, vaqueiro, teu sono Cavalos pra pegar gado possuiu bons animais Caboclinho, Batatuba eram os bons dos matagais Pedrês, Garajau, Garoto, Asa Branca e outros mais Dorme, vaqueiro, teu sono Foi o melhor nadador, é um peixe pra nadar Também o melhor ciclista e melhor era nos dançar Ninguém dançou no mundo melhor do que Valdemar Dorme, vaqueiro, teu sono Como a morte é traiçoeira e matar é seu motivo Não procura quem é morto, só procura quem é vivo Também botou Valdemar nas páginas do seu arquivo Dorme, vaqueiro, teu sono No dia vinte de junho de oitenta e sete o ano A morte em Valdemar jogou seu laço tirano Fazendo cobrir de luto o sertão Jaguaribano Dorme, vaqueiro, teu sono O Ceará teve um choque, as serras se abalaram Rios tremeram as águas, os campos verdes murcharam Cavalos ficaram tristes e as boiadas desmaiaram Dorme, vaqueiro, teu sono Há muitos dias já vinha doente do coração Sob os cuidados médicos, mas não houve solução Que quando o coração quer, apaga qualquer cristão Dorme, vaqueiro, teu sono Dezenove de novembro, Valdemar adoeceu Melhorou e em janeiro a última carreira deu Chegou em casa doente e a vinte de junho morreu Dorme, vaqueiro, teu sono Para a esposa e filhos, a quem deu felicidade Irmãos, amigos, vaqueiros, os que ele amou de verdade Partiu e deixou pra todos a mais eterna saudade Dorme, vaqueiro, teu sono Deixou ainda um cavalo, perneira, chapéu, gibão Espora, cela e chicote que colocava nas mãos Como prova que foi ele vaqueiro rei do sertão Dorme, vaqueiro, teu sono E assim Valdemar fez sua última partida Para os campos de Jesus, onde a vida é vivida Foi viver com Deus, deixando um adeus por toda a vida Dorme, vaqueiro, teu sono Que o sono eterno é a luz Despertarás aboiando no céu lindo de Jesus Dorme, vaqueiro, teu sono Que o sono eterno é a luz Despertarás aboiando no céu lindo de Jesus Dorme, vaqueiro, teu sono Que o sono eterno é a luz Despertarás aboiando no céu lindo de Jesus Dorme, vaqueiro, teu sono Que o sono eterno é a luz Despertarás aboiando no céu lindo de Jesus