Brasileiro nato Sou um anjo torto Tal Torquato, sou retrato De um destino mal traçado Nordestino açoitado Neto do velho Gaudêncio Dos Santos batizado em silêncio No Sertão das Jacobinas Nasci e fui criado, entre pedras e ruínas Mas o chão rachou de fome E aos vinte e poucos fui mandado À Paulicéia, um abismo encantado Sou raiz que ninguém rega Canto a dor do meu sertão Meu fardo ninguém carrega Nem divide a solidão Metrô lotado, todo mundo tão calado Rostos pálidos, mundo robotizado Sinto falta do café quente De conversar com minha gente Aqui, o silêncio é uma corrente Presa à toda alma vivente Conduzido ao matadouro, sem vela e sem choro Vejo o pobre no sufoco O rico ri do alto, lá do trono No fim do dia, são todos gado Uns berram mais, outros seguem calados Sou raiz que ninguém rega Canto a dor do meu sertão Meu fardo ninguém carrega Nem divide a solidão Metrópole apressada, tão cheia e tão vazia Cercada de concreto, sem alma e sem poesia O amor ficou para trás, em outra estação Frio não é o clima, bem mais é o coração Vim pra desafinar o coro Dos contentes que ignoram o choro De pretos, pobres, dos que não podem falar Com sede de Justiça a saciar (Um minuto de silêncio) (E que seja dedicado) (A todo brasileiro) (Ainda marginalizado!) Sou raiz que ninguém rega Canto a dor do meu sertão Meu fardo ninguém carrega Nem divide a solidão