Ergui minha torre no alto, tão pura Portas abertas pra alma insegura Trouxe abrigo, dei o meu pão Mas deixaram espinhos na minha mão O vento sopra, chamando os mesmos Rostos suaves, gestos indefesos Prometem paz, mas trazem fome E vão embora levando meu nome Toda visita vem com sede E eu, com o coração que cede Eles sobem pra se aquecer E descem fingindo esquecer Na minha torre, todo pedido ecoa E cada favor me deixa mais à toa Eles sobem pelas escadas do meu bem Mas nenhum deles pergunta se eu estou bem também A generosidade virou prisão E a chave está em outra mão Deixei a luz brilhar na janela Pra quem se perde encontrar nela Mas até a chama mais sincera Vira farol pra alma que espera E quando o frio se vai Ninguém fica pra me curar Só restam vozes nos corredores Pedindo mais, pedindo dores Toda promessa vem com preço E eu pago antes, por reflexo Eles falam de amor cortês Mas só conhecem o que o outro fez Na minha torre, todo pedido ecoa E cada favor me deixa mais à toa Eles sobem pelas escadas do meu bem Mas nenhum deles pergunta se eu estou bem também A generosidade virou prisão E a chave está em outra mão Não quero mais abrir o portão Nem ser abrigo pra ingratidão O que era refúgio, agora é muralha E o silêncio é quem me guarda Na minha torre, ninguém mais entra O amor do coração virou rancor Quem vier buscar, não vai achar O que um dia quis doar A torre não é mais abrigo É onde aprendi a ficar comigo