Menina de olho aceso, senta aqui no meu terreiro Que eu te conto as cicatrizes que o tempo fez de travesseiro Nasci no colo da noite, sem direito a alvorecer Meu nome era silêncio, meu destino, obedecer Pisei no chão da senzala, feito quem pisa no céu Com a alma presa em corrente, e o corpo coberto de fel Mas tinha canto na mata, e tambor no coração Tinha reza na soleira, e o sonho na contramão Não havia escola, não, mas a dor me ensinou Cada marca no lombo é palavra que ficou Menina, ouve meu canto, leva no teu caminhar A história que o chicote quis calar Vi mãe parir no terreiro, com lágrima no olhar E vi filho ser vendido, sem nem poder se abraçar Mas também vi quilombo erguido, com coragem no pé E vi homem de cabeça erguida, dizendo “eu sou fé” Não havia escola, não, mas a dor me ensinou Cada marca no lombo é palavra que ficou Menina, ouve meu canto, leva no teu caminhar A história que o chicote quis calar