Eu vendi a pressa que você me deu Junto com o grito que eu não soube engolir O calendário é o único troco que sobrou Desde o dia em que você escolheu partir Me reconto em pedaços na luz da geladeira Onde o desejo virou fumaça de chá Eu sou a última ponta de uma briga rasteira Que a minha fé insiste em não apagar Ah, se a manhã for só um papel Não me pergunte por onde eu andei Eu me refiz do barulho Eu me refiz do barulho Eu esfumei a curva de todos os dias Pra ver o que resta depois de passar A gente é só o recorte de antigas bacias Tentando aprender a não transbordar Eu troquei a lente de todos os olhares Para entender a sombra que te fez partir A leveza é a prova que existe nos ares Que o destino ensaiava antes de dormir Ah, se a manhã for só um papel Não me pergunte por onde eu andei Eu me refiz do barulho Eu me refiz do barulho Me desapego da urgência de me refazer Eu só espero a cinza assentar no chão Que o frio é o avesso do tempo a crescer E o único laço que resta é o não Eu não ligo se o choro vem da razão Se a estrutura cedeu ao tentar me julgar Eu me tornei a nuvem de um céu sem perdão E a única luz que resta é o meu próprio lugar Ah, se a manhã for só um papel Não me pergunte por onde eu andei Eu me refiz do barulho Eu me refiz do barulho