Eu me acostumei a ver a vida passar Pela fresta que a razão me ensinou a olhar Pensei que o esconderijo fosse a melhor das artes Guardar o coração em pedacinhos e partes Eu virei um soldado do próprio conforto E morri um pouco em cada porto que eu evitei O seu livro não tinha o meu nome escrito Eu troquei o risco pela perda da essência Não me venha medir o tempo que eu guardei Pois eu só me achei naquilo que eu não evitei Eu abri a mão da loucura com tal certeza Que hoje a solidão é só mais uma mesa sem surpresa Se o amor é a única falha que vale a pena ter Eu sou a última linha de um livro que não vai acontecer O conforto é a prisão que a gente assina E não há saída além da nossa rotina Eu me detive no meio do esquema Onde o desejo era apenas um acerto em vão Achei que o cuidado era uma fortaleza de paz Juntei a ausência para não ter o que se desfaz Eu sou a arquitetura que a razão ergueu E o sentimento é o único preço que eu não paguei em fim Eu vi o erro no cálculo, tarde demais A cada passo seguro eu perdia um traço de mim Não é a marca na pele que me diz quem eu sou É o quanto de vida eu recusei e o quanto sobrou A medida do viver não está no controle E só o sentimento é o que nos dá o nosso papel