Mais uma vez, em dezembro, e eu estou só
Eu vou correr, mas não sei aonde eu vou
Não quero mais Minas Gerais
Terapia barata, dois cigarros ou mais

Quero um sol pro meu vácuo
Mesmo que queime e deixe tudo bagunçado
Quero esquecer que vamos morrer
E lá vai eu, de novo, se esconder

Um dia cê me esquece
Porque
Eu sempre me esqueço
Dos motivos pra continuar
E da data que jurei me matar

Um dia cê esquece
Porque eu nunca me esqueço
Do corpo frágil e maléfico
Que não foi minha mãe que me deu

Me desculpa, bem
Por te enganar
E te fazer carregar esse caixão
Que no final é meu, eu sei

Me desculpa
Por dizer que um dia cê vai me deixar
Mas a vida é além de um fardo
Pra você carregar

Me desculpa
Por esses anos
Que eu disse que o que eu escrevia
Não era o que eu sentia

Mas veja bem, meu bem
Minha família nem imagina
Quantas vezes meus ossos quiseram
Explodir num único dia

E eu admito
É de madrugada, quando ninguém está vendo
Que minha pele podre desmancha
E eu me sinto sujo e nojento

Em fevereiro eu prometo mudar
Vou andar
Ver as gaivotas em todo lugar
Voando da maneira que eu nunca vou voar

Sou um rato imundo
Meu amor, eu queria ser um pombo
E poder voar, porque mais
Eu nunca vou virar

Tem dias que não sou eu mesmo
Tem dias que tudo é chato
Tem dias que tudo perde o sentido
Tem dias que eu quero morrer

Tem dias que eu tô surtando
Tem dias que eu tô fumando
Tem dias que eu me corto calado
Tem dias que eu penso em você

Tem dias que eu perco o fôlego
Tem dias que eu não sou bonito
E tem dias que eu sinto medo
Medo de perder muito tempo
Cair no buraco negro
E morrer
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