Algures na tarde há um fumo que arde No sangue de dois faladores Discutem, agitam e com o que gritam Atraem mais espectadores Têm raiva nos dentes e fogo no olhar Atiram serpentes de fúria ao falar Perguntam à toa, respondem que não E mesmo que doa, hão-de ter a razão A razão Com frases alheias defendem ideias Que ouviram alguém defender Arriscam a fé e enganam até Se sentirem que podem vencer E não buscam verdade, que é isso afinal? Viva a tempestade, mentir não faz mal Avançam nos gritos, talvez frustração E por ditos não ditos lá têm razão A razão A razão E uma criança sem tempo aproximou-se, atrevida E tem na frente um exemplo do que é ser gente crescida Afasta-te já, não demores por cá Tu não ouves, não olhas, não vês Tu és simples e justa, ai eu sei quanto custa Tentar aprender os porquês Tu és vida e bonança depois do furor És Sol de esperança de algum sonhador Sorris na beleza, na tua ilusão Tu tens a pureza de não ter razão Ter razão Eu invejo o sorriso que agora te vi Criança, eu preciso lembrar-me de ti Na vida tão escura tens luzes na mão O sonho, a ternura, o amor, a razão A razão A razão