Sou a favor da ditadura, disse ele Do pau de arara e da tortura, concluiu Mas o regime, mais do que ter torturado Tinha que ter matado trinta mil E em contradita ao que afirmou, na caradura Disse: Não houve ditadura no país E no real o incrível, o inacreditável Entrou que nem um pesadelo, infeliz Ao som raivoso de uma voz inconfiável Que diz e mente e se desmente e se desdiz Disse que num quilombo os afrodescendentes Pesavam sete arrobas e daí pra mais Que não serviam nem pra procriar Como se fôssemos, nós negros, animais E ainda insiste que não é racista E que racismo não existe no país Como é possível, como é aceitável Que tal se diga e fique impune quem o diz? Tamanha injúria não inocentável Quem a julgou, que júri, que juiz? Disse que agora o índio está evoluindo Cada vez mais é um ser humano igual a nós Mas isolado é como um bicho no zoológico E decretou e declarou de viva voz Nem um centímetro a mais de terra indígena! Que nela jaz muita riqueza pro país Se pronuncia assim o impronunciável Tal qual o nome que tal hino nunca diz Do inumano ser, o ser inominável Do qual emanam mil pronunciamentos vis Disse que se tivesse um filho homossexual Preferiria que o progênito morresse Pruma mulher disse que não a estupraria Porque você é feia, não merece E ainda disse que a mulher, porque engravida Deve ganhar menos que o homem no país Por tal conduta e atitude deplorável Sempre o comparam com alguns quadrúpedes Uma maldade, uma injustiça inaceitável! Tais animais são mais afáveis e gentis Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país? Chamou o tema ambiental de “importante Só pra vegano que só come vegetal” Chamou de mentirosos dados científicos Do aumento do desmatamento florestal Disse que a Amazônia segue intocada Praticamente preservada no país E assim negou e renegou o inegável As evidências que a Ciência vê e diz Da derrubada e da queimada comprovável Pelas imagens de satélites E proclamou: Policial tem que matar Tem que matar, senão não é policial Matar com dez ou trinta tiros o bandido Pois criminoso é um ser humano anormal Matar uns quinze ou vinte e ser condecorado Não processado”e condenado no país Por essa fala inflexível, inflamável Que só a morte, a violência e o mal bendiz Por tal discurso de ódio, odiável O que resolve são canhões, revólveres A minha especialidade é matar Sou capitão do exército, assim grunhiu E induziu o brasileiro a se armar Que todo mundo, pô, tem que comprar fuzil Pois povo armado não será escravizado” Numa cruzada pela morte no país E num desprezo pela vida inolvidável Que nem quando lotavam UTIs E o número de mortos era inumerável Disse: E daí? Não sou coveiro, e daí? “Os livros são hoje ‘um montão de amontoado’ De muita coisa escrita”, veio a declarar Tentou dizer conclamo e disse eu canclomo Não sabe conjugar o verbo concl—amar Clamou que no Brasil tem professor demais” Tal qual um imbecil pra imbecis Vigora agora o que não é ignorável Os ignorantes ora imperam no país (O que era antes, ó pensantes, impensável) Quem é essa gente que não sabe o que diz? Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país? Chamou de herói um coronel torturador E um capitão miliciano e assassino Chamou de escória bolivianos, haitianos De Paraíba e pau de arara o nordestino E diz que ser patrão aqui é uma desgraça E diz que fome ninguém passa no país Tal qual num filme de terror, inenarrável Em que a verdade não importa nem se diz Desenrolou-se, incontível, incontável Um rol idiota de chacotas e pitis Disse que mera fantasia era o vírus E histeria a reação à pandemia Que brasileiro pula e nada no esgoto Não pega nada, então também não pegaria O que chamou de gripezinha e receitou (sim!) Sim, cloroquina, e não vacina, pro país E assim sem ter que pôr à prova o improvável Um ditador tampouco põe pingo nos is E nem responde, falador irresponsável Por todo ato ou toda fala pros Brasis E repetiu o mote Deus, pátria e família Do integralismo e da Itália do fascismo Colando ao lema uma suspeita liberdade Tal qual tinha parodiado do nazismo O slogan Alemanha acima de tudo Pondo ao invés Brasil no nome do país E qual num sonho horroroso, detestável A gente viu sem crer o que não quer nem quis Comemorarem o que não é memorável Como sinistras, tristes efemérides Já declarou: Quem queira vir para o Brasil Pra fazer sexo com mulher, fique à vontade Nós não podemos promover turismo gay Temos família, disse com moralidade E já gritou um dia: Toda minoria Tem de curvar-se à maioria no país E assim o incrível, o inacreditável Se torna natural, quanto mais se rediz E a intolerância, essa sim intolerável Nessa figura dá chiliques mis Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país? Por vezes saem, caem, soam como fezes Da sua boca cada som, cada sentença É um nonsense, é um caô, umas fake news É um libelo leviano ou uma ofensa Porque mal pensa no que diz, porque mal pensa Não falo mais com a imprensa, um dia diz Mas de fanáticos a horda lamentável Que louva a volta à ditadura no país A turba cega-surda surta, insuportável E grita mito, eu autorizo, e pede bis! E disse: Merda, bosta, porra, putaria Filho da puta, puta que pariu, caguei! E a cada internação tratando do intestino E a cada termo grosso e um talquei O cheiro podre da sua retórica Escatológica se espalha no país Sou imorrível, incomível e imbrochável Já se gabou em sua tão caracterís- Tica linguagem baixo nível, reprovável Esse boçal ignaro, rei de mimimis Mas nada disse de Moise Kabagambe O jovem congolês que foi aqui linchado Do caso Evaldo Rosa, preto, musicista Com a família no automóvel baleado Disse que a tropa não matou ninguém, somente Foi um incidente oitenta tiros de fuzis O exército é do povo e não foi responsável Falou o homem da gravata de fuzis Que é bem provável ser-lhe a vida descartável Sendo de negro ou de imigrante no país Bradou que o presidente já não cumprirá Mais decisão do magistrado do Supremo Ao qual se dirigiu xingando: Seu canalha! Mas acuado recuou do tom extremo E em nota disse: Nunca tive intenção (Não!) De agredir quaisquer Poderes do país Falhou o golpe mas safou-se o impeachável Machão cagão de atos pusilânimes O que talvez se ache algum herói da Marvel Mas que tá mais pra algum bandido de gibis Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país? E sugeriu pra poluição ambiental É só fazer cocô, dia sim, dia não E pra quem sugeriu feijão e não fuzil Querem comida? Então, dá tiro de feijão É sem preparo, sem noção, sem compostura Sua postura com o posto não condiz No entanto chega! Vai agora (inominável) Cravou o maior poeta vivo, no país E ecoou o coro: Fora, (inominável) E o panelaço das janelas nas metrópoles! E numa live de golpista prometeu Sem voto impresso não haverá eleição! E praguejou pra jornalistas: Cala a boca! Vocês são uma raça em extinção! E no seu tosco português ele não pára Dispara sempre um disparate o que maldiz Hoje um mal-dito dito dele é deletável Pelo Insta, Face, YouTube e Twitter no país Mas para nós, mais do que um post, é enquadrável O impostor que com o posto não condiz Disse que não aceitará o resultado Se derrotado na eleição da nossa história E: Eu tenho três alternativas pro futuro Ou estar preso, ou ser morto ou a vitória Porque somente Deus me tira da cadeira De presidente (Ó Deus, proteja esse país) Tivéssemos um parlamento confiável Sem x comparsas seus cupinchas, cúmplices E seu impeachment seria inescapável Com n inquéritos, pedidos, CPIs Não há cortina de fumaça indevassável Que encubra o crime desses tempos inci-vis E tampe o sol que vem com o dia inadiável E brilha agora qual farol na noite gris É a esperança que renasce onde há véu De um horizonte menos cinza e mais feliz É a passagem muito além do instagramável Do pesadelo à utopia por um triz No instante crucial de liberdade instÁvel Pros democráticos de fato, equânimes Com a missão difícil mas realizável De erguer das cinzas como fênix o país E quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país? Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?