Lá no rancho que eu morava Com os filhinhos e a muié Bem cedinho eu levantava Cinco hora tava de pé Água no fogão ponhava Pra véia fazê o café Depois que eu o café bebia Um cigarrinho fazia Não fumava o de papé Meu ranchinho de barrote Co teiado de sapé No pasto quatro garrote Cinco vaca e um pangaré Água fresca no meu pote Botina larga no pé E uma viola pendurada Com a fonte toda enfeitada Com quizo de cascavé A traia de pescaria Pra pescar o que eu quisé Tinha uma carretia Com cem metro no carreté Eu pescava todo dia Nas touceira de iguapé Tanto peixe que eu pegava Que até a linha arrebentava Em boca de tucunaré Mas meu amigo Benedito Hoje vai dançá um balé O Carrara canta bonito Pra você eu tiro o boné Mas só que eu não admito Me mandá pro lucifé Mas se no inferno eu fô Vou montado no sinhô Que eu não gosto de andar a pé Vai entrar no meu castelo Diz que vai fazê um bordé Ne mim qué descê o martelo E ne mim vai dá um tropé Da minha morada eu zelo Ai você não faz o que qué Ocê não faça essa bestêra Pego a minha cartuchêra Ocê vorta de marcha-ré Tá me chamando de rei Mas não sô um rei quarqué Se neste ponto eu cheguei Porque eu sempre tive fé Muito tempo eu labutei Remando contra a maré Eu não sei se ocê sabia Sou o rei da cantoria Até quando Deus quisé Sete rei que eu conhecia Um deles foi rei Pelé Outro foi o rei Messia Foi Jesus de Nazaré O outro é eu na cantoria Que ocê já sabe quem é No meu verso eu nunca faio Os outros quatro tá no baraio Nas mesa dos cabaré Dito é um rei diferente É um rei meia cuié Esse é o rei da aguardente Rei dos bebedô de mé Esse rei qué sê valente Mas apanha até de muié Não adianta ser valente Se caí na minha frente Vô erguê no pontapé Mas ao tempo vai passando Não é como a gente qué Nossa idade vem chegando A gente vai perdendo a fé A gente véio vai ficando Não aguenta Pará de pé A nossa vida é uma beleza Mas a própria natureza Faz da gente o que ela qué