Dizem que nascemos estrear Mas como pode se o show já começou? Os tornozelos se esticam em volta É a platéia se espremendo na porta Todos eles aparentam se divertir Com truques falsos, antigos, desmascarados Com ilusões que eu reconheço Mesmo antes de nascer E nesse circo onde acabou a alegria Eu não consigo entender tanta euforia E os verdadeiros artistas na minha lembrança Ainda passam o chapéu sem esperança E se você me perguntar "quem é o culpado Desse retrato de tanto descompromisso?" Quem sabe enxergue nos olhos do palhaço o que talvez Seja apenas um indício Quando for, pra voltar O amor, vai mostrar Outra cor, pra mudar Quem eu sou E segue o show no circo litoral E já são mais de trinta anos nessa estrada Mas boa parte desse tempo valeu de nada Não pela preguiça, ou por morosidade É que o dinheiro tava entrando com facilidade E desse jeito eu acompanho com desespero! Pois o palhaço no palco não tem nariz vermelho Não usa suspensório, e nem disfarça Quando a platéia olha pra ele e não vê graça É quando eu olho pra trás e vejo os olhos Caídos da próxima atração No semblante o rosto de quem já se cansou de obedecer A repetição Quando for, pra voltar O amor, vai mostrar Outra cor, pra mudar Quem eu sou