Noite gelada no capão Chuva fina no asfalto, escorrendo raiva Luz de poste tremendo, sombra longa Coração pesando, mente fervendo Mão fechada, alma gritando Mas tem uma voz dentro suave dizendo Deixa pra mim Os cara chegou de surpresa, armadilha armada Me encurralaram no beco, risada gelada Fita errada, mano falso, traição na quebrada Alguém que eu chamei de irmão, virou espada Meu boné pingava ódio, moletom encharcado Não era só chuva, era lágrima disfarçado Olhei nos olhos dele, vi o gelo A mesma quebrada que cria, te mata sem zelo Fiquei no chão, mas meu espírito ficou em pé Lembrei da voz da minha vó: Deus vê Mas a carne latejava: Responde agora! E a alma dizia: Espera, tem hora E eu travado na viela, coração querendo guerra Mas dentro, uma brisa leve soprando, me leva Romanos doze, fiote, confia na sentença Vingança é do senhor Mas a dor não dispensa Sede por vingança, queimando no peito Mas a justiça de Deus sempre chega no tempo Sede por vingança, minha alma em desespero Mas ele diz: Entrega, então eu me apego Sede por vingança, eu quase fui pelo erro Mas o céu gritou mais alto que o inferno O mano que riu da minha queda, eu vi ele ontem Com corrente no pescoço, girando no bonde Fazendo pose de rei num trono de mentira Mas meu Deus revela tudo, ninguém conspira Me chamaram de otário, de crente fraco Mas não sabem das madruga chorando no quarto Com a bíblia aberta no salmo noventa e quatro Senhor, Deus das vinganças, levanta teu braço! Queriam minha alma presa no ciclo de sangue Mas eu já vi muito enterro de mano arrogante A rua cobra, a rua pune, a rua esquece Mas a justiça dele nunca adormece Eu senti o peso na mente, a faca na alma Mas provérbios vinte me deu calma Não diga: Vou me vingar, segura a palma O senhor retribui, respira, guarda a calma Sede por vingança, gritando no escuro Mas a luz de Deus atravessa o muro Sede por vingança, chama que consome Mas ele me chama pelo meu nome Sede por vingança, quase me fez monstro Mas o espírito sussurrou: Tô contigo, pronto Lembro de dois mil e sete, meu pai sem trampo Minha mãe cozinhando fé, na panela sem rango Os boy zoava meu tênis furado no pátio Mas eu aprendi a pisar firme no asfalto Os trauma viraram tatuagem na memória Cada cicatriz tem seu capítulo na história Vulto na esquina, poste piscando Rua sem lei, mas eu sigo orando Já vi parceiro cair por reagir Mas prefiro viver pra resistir A quebrada é fria, coração congela Mas Deus é abrigo dentro da cela Mateus 5 falou pra mim: Ama teu inimigo Mas como amar quem me fez perigo? A resposta veio no silêncio do meu quarto Com o espírito curando cada pedaço quebrado Sede por vingança, tentou me dominar Mas o amor de Cristo veio me resgatar Sede por vingança, se alimenta do rancor Mas eu bebi da fonte viva do senhor Sede por vingança, virou sede de paz Hoje quem me feriu não tem mais cartaz Hoje eu ando com olhar sereno, passo firme Quem vê pensa que eu nunca chorei no crime Mas cada passo é guerra vencida Cada oração é bala desviada da vida Deixei nas mãos do justo juiz Ele conhece cada cicatriz Não preciso mais gritar por vingança Hoje grito por esperança O mano que me feriu, eu perdoo em nome dele Porque liberdade não se encontra no fuzil – é no evangelho Minha alma tá leve, mesmo em noite escura A chuva ainda cai, mas não fere, cura (Oh senhor, eu quis me perder) Mas teu amor segurou minha mão (Oh senhor, eu quis revidar) Mas tua palavra foi minha munição Hoje eu sei, não sou refém do ódio Sou filho da luz, não mais escravo do pódio Minha sede agora é por justiça Mas da justiça que liberta Não que mata