Quatro e trinta, chão frio no pé Corro no escuro, já sei qual é Silêncio corta, cidade me engole Quem não se vê, ninguém socorre Tênis rasgado, alma no ponto Olho na frente, não conto desconto Passo no tempo, corro com o vento Tijolo no peito, cimento no tento Na avenida, nóis é só fumaça Rosto apagado, vida que passa Peça encaixa, ninguém repara O mundo gira, nóis é engrenagem Trampo de um lado, sonho do outro Mão que constrói não ganha ouro Vida amarrada no nó da cidade Ergo o futuro sem identidade Na sombra do concreto, nóis corre demais Fazendo o que sustenta, mas nunca tem paz Escondido no brilho, nóis segue voraz Engrenagem do mundo, mas nunca é capaz Me passou, fone sem som Olho na janela, coração sem tom Minha pegada, poeira no chão Fusca rebaixado quase no vão Da banca do Guará, nóis pega o que dá Roupa no corpo, mas nada sobrar Olho no turno, café sem sabor Tudo que movo não traz o valor Cimento no peito, pulmão engasgado Grito calado, futuro apagado Minha rima corre onde nóis não tá Planta um futuro que nóis não verá Na sombra do concreto, nóis corre demais Fazendo o que sustenta, mas nunca tem paz Escondido no brilho, nóis segue voraz Engrenagem do mundo, mas nunca é capaz Se é no passo, poesia no trampo Carrego a cidade, mas quem é que espanto? Vejo o reflexo, ele some no pranto No espelho da vida, só nóis que é manto Fumaça no ar, luz de poste acesa Rostos que passam, tudo em defesa Documento atrasado, fé no volante Fusca no Guará, nóis segue adiante Curvas da cidade, sonhos na curva Cortam as linhas, mas nóis nunca surta Pivete no campo, sorriso no olho Quebrada resiste, nóis segue no jogo Se é pra cair, eu levanto primeiro Força de quem tá no mundo inteiro Mas no fim da jornada, quem vai lembrar? Das vigas que pus pra alguém se apoiar Na sombra do concreto, nóis corre demais Fazendo o que sustenta, mas nunca tem paz Escondido no brilho, nóis segue voraz Engrenagem do mundo, mas nunca é capaz Se eu parar, quem nota o impacto? Só mais um nome no som compacto Mas no asfalto que corta o chão Nóis é o peso que move o vão Se eu parar, quem nota o impacto? Só mais um nome no som compacto Mas no asfalto que corta o chão Nóis é o peso que move o vão