No teu enterro chorarei feito um bezerro Se foi erro nosso amor somente Deus pode julgar Não vou topar ser simplesmente um vulto oculto Guardo luto e te sepulto igual viúva titular Você dizia para eu ter diplomacia Que mais dia menos dia ia abandonar o lar E eu esperei até o dia da tua morte Não me importa mais ter porte Nem o que outros vão pensar No cemitério vão saber do adultério Sua fama de homem sério acabará já no velório Pois uma estranha que expresse dor tamanha Ou é carpideira e ganha Ou tem culpa no cartório Com muito custo vão se refazer do susto Mas também seria injusto eu não dar o meu adeus Tenho direito de me atirar de bruços No caixão e em soluços questionar o que fez Deus E eu agarrada o tempo todo ao teu defunto Pedirei pra morrer junto Pra que acabe o meu flagelo E se alguém me segurar não dou indulto Torno o culto um tumulto, solto insulto e me rebelo O nosso elo foi tão belo que é pecado Manter tudo abafado só por causa de um papel E é tão forte que, se o padre não declara Nem a morte nos separa, quanto mais um mero anel Nas quartas-feiras eu que era o seu porto Dando afeto e conforto e um bocado de prazer Você está morto, mesmo assim eu te prometo Toda quarta eu visto preto, compro vinho e vou te ver