Éramos nós Os bons de bola Os maiorais Da nossa área As tardes de sol na rua de trás A imensa liberdade que existia A pedra dos dois olhos a testemunhar A fé longe da igreja A avenida em frente ao meu quintal Separava a infância do regime militar O abacateiro, a casa e o futebol protegiam os sonhos de um indomável coração Driblando o pesadelo E observando Os caminhões levavam as toras gigantes Recém cortadas da mata atlântica Pequenos furtos mais e mais constantes Pra alimentar o milagre econômico Vou tentando entender Olhando ao meu redor Uma transformação está no ar O povo a crescer Erguendo sua voz O movimento das diretas já! Na avenida em frente ao meu quintal passavam milicos espalhando o mal-estar Um faz de conta que tudo é normal Medo e paranoia silenciam a razão A revolta represada ia transbordar Conhecendo a vida do outro lado da avenida A história vira um grande conto de terror O medo que afligia grande parte das famílias Os filhos que um dia a ditadura torturou Foram-se os dias que o quintal me protegia Além da avenida o mundo mudou A avenida em frente ao meu quintal separava a infância do regime militar Chega a hora de modificar Um novo capítulo, um novo desafio a enfrentar Sempre lembrar pra nunca repetir!