Alguns eram bons cantores Outros não faziam feio Mas nenhum canto era alheio Ainda que marcas não tinham E as noites iam e vinham Entre canto e guitarreio Chegava às vezes do povo Algum professor letrado E, após haver escutado Os versitos que anotava A guaiaca recheava Com o que outros tinham pensado O campeiro faz seus versos Sobre suas antigas dores E chegam esses senhores Com um caderno na mão Copiam o canto do peão E se dizem escritores O peão cuida seu flete Sua mulher, seu violão Pra ele, é uma obrigação Sua palavra de paisano Para tudo ele é vaqueano Pra guardar seu verso, não Versos que acompanharam A andança só do campeiro Guerras passadas e cheiros De flores há muito mortas São a luz que o conforta Como na noite o luzeiro O afligirá extraviar Um buçal ou um maneador Porém, não sente furor Se, ao escutar-lhe uma trova Vem um povoeiro e lhe rouba Seu melhor canto de amor Claro que, pensando bem Se acaba achando o caminho Que o verso antigo, igualzinho À própria raíz da vida Tem a alma por guarida Que é onde a queixa faz ninho Por isso o homem, ao cantar Com emoção verdadeira Expulsa a dor de maneira Que leve consigo os ventos E, ao menos, por um momento Alivia suas bicheiras Não que não ame sua trova Ou que despreze seu canto É assim, feito um quebranto Que, à noite, na escuridão Afrouxa do índio o garrão E o vento leva-lhe o pranto