Chamamé de campo que acende o dia pelas plainuras Que reponta o gado para o rodeio toda a manhã Vai soprando acordes no vento norte pelas lonjuras Agitando as copas dos paraísos e tarumãs! Chamamé de campo que andava livre, potro indomado Que se ouvia ao longe, cortando os campos ainda em flor Foi perdendo espaço e é prisioneiro dos aramados E o seu timbre antigo foi apagado pelo trator Mas quem traz a alma chamamecera, mesmo no asfalto Sabe ser do campo, de um jeito puro que não se trai Mostra que a querência, dentro do homem, fala mais alto E, quebrando o gelo, fere o silêncio num sapucay! Chamamé de campo que acorda a lua na noite escura Embalando o fogo para o campeiro que sente frio Vai sorvendo a mágoa que traz a erva na ceivadura Seu passado índio que foi embora seguindo os rios! Quando, nas estâncias que ainda resistem, o gado berra O campeiro sofre de nostalgia por compreender Que o mugido soa como um lamento da própria terra Que acalenta a pampa e que se transcende num chamamé!