Desde pivete na oficina Aprendi uma profissão Sem atrasar o de ninguém Corria atrás do meu cifrão Vários amigos de copo E eu achando que era irmão E da vida o que eu queria Era pura pura diversão O ano era 2012, meio de julho, madrugada Moto de tanque cheio E eu empolgado com a noitada Como era de costume todo final de semana Procurando alguma vibe pra curti até a lama Bebendo e aspirando até acabar o capital Não me lembro de nada Só acordei no hospital Leito de uma UTI, aparelho pra respirar Uma traqueo no pescoço E uma equipe a me cuidar Cadê minha família Eu queria questionar Da boca nada saia, só os lábios a balançar A ficha não caia e eu nada a entender Ouvir uma enfermeira Comentando o proceder Ele caiu de moto Fraturou a cervical Traumatismo craniano Por pouco não se dar mal Sem falar da cirurgia Na qual já tem uns dias Uma parada cardíaca Nem imagina que agonia No horário de visita A mãe dele vem todo dia E eu fico a imaginar Que ele deve ser uma boa cria Como se você um sonho E eu sem compreender O tamanho do bronca Que eu vim a se meter Vários pulou do barco Quando viu a tempestade Mas só que não fez falta Pois eu tava com minha base Não queira pagar o preço Que eu paguei pra aprender Família é o alicerce que vai te proteger Passou se mais um tempo e tive alta da UTI Fui pro isolamento, e lá sozinho que eu vivi Momentos bem sombrios Choques de realidade Várias decepções Quando pensava em amizade E o que tava ruim, pareceu ficar pior Quando um médico escroto Me desenganou sem dó Sugerindo em minha barriga Uma mangueira introduzir E para casa eu voltaria me alimentando por ali Dizendo meu quadro Não tinha o que melhorar Que eu tinha procurado Agora tinha que aguentar A coroa se desesperou E achou no fim do túnel, uma solução A ajuda de uma fono Era o que eu iria precisar Mas no hospital não possuía Ela contratou uma particular E tirou de onde não tinha Para eu recuperar a habilidade De comer, falar e respirar Com muita força de vontade e determinação Fui vencendo essa batalha Calando aquele cuzão Natal e réveillon passei no hospital Doido pra ir pra casa Sonhando com o Carnaval Março de 2013 e eu seguia internado Chorei o dia inteiro Quando chorão tinha se matado Um dia muito triste Pra quem curte Charlie Brown Mas três dias depois tive alta do hospital Pra casa de ambulância, ainda na esperança Voltar andar de skate Pegar onda e meter dança Mas o tempo passava Os movimentos não voltava Fui pegando a visão que tetraplégico eu estava Só quando eu me aceitei, foi que compreendi Não me faltava nada, minha família era por mim E a partir daí mudou-se as expectativas Lutar pelo progresso virou meu foco de vida Conquistando objetivos E buscando meu lugar Deixo aqui meu testemunho Para você castelar