Faz tempo que não vejo os meus meninos O tempo correu mais que a minha vontade A casa tá cheia de silêncios e retratos E o riso virou só uma saudade O mano se foi sem dizer adeus Levou com ele um pedaço meu Deixou um boné pendurado no gancho E uma história que nunca morreu E os amigos de bar sumiram com o tempo Ou talvez fui eu quem sumiu primeiro Mas ainda lembro os nomes, os sonhos E aquele som de domingo no terreiro Mas João, quem foi feliz não volta atrás Nem pede desculpa pro tempo que traz As guerras do mundo e as guerras daqui São todas pedaços do que vivi E mesmo que a vida tenha me mudado Fui livre mesmo quando fui deixado Achei que o amor era eterno e perfeito Mas ele só era bonito de longe Vi o futuro por janelas quebradas E escrevi canções com o que me consome As notícias falam de bombas e muros De crianças que crescem sem chão E eu que sonhava com um mundo melhor Aprendi a cuidar do meu coração E mesmo que a vida tenha outros planos Ainda planto flores nos meus enganos Cada ruga é um poema vivido Cada dor um livro lido E no compasso da solidão A alma dança sem direção Mas sorri, mesmo só sorri João, quem foi feliz não se arrepende A vida ensinou que a dor também surpreende Não vi meus filhos crescerem de perto Mas sonhei com eles em cada deserto E mesmo que o mundo me tenha esquecido De mim eu nunca fui deixado