No Rio de Janeiro Fui um relegado Marinheiro Discriminado por um sistema oficial Quase estamental A antiga Capital Federal Vivia mergulhada na corrupção e no racismo estrutural Beleza natural não rima com a decadência social Negra Allice, loira Wilma, mulata Rosy Conceição Marize, Alba Valéria a todas elas entreguei meu coração Mancebas mundaíras da indigência Meninas belas fugindo da miséria da extorsão No Rio de Janeiro Fui um relegado Marinheiro Discriminado por um sistema oficial Quase estamental Naqueles anos oitenta, fora do normal Outros Cassis Jones, Marcelas, Pombinhas e Leones Se perdiam no mangue e na Central Novos Deolindos seguiam iludidos Entre os cabarés, os armários e o Arsenal Santa Teresa, Santo Cristo Glória, Gamboa, saúde, Providência Deus do Céu! Eu nunca tinha visto Tanta excludência No Rio de Janeiro Fui um relegado Marinheiro Discriminado por um sistema oficial Quase estamental Nas Ruas de Viscondes, Dons e Conselheiros Passavam desalentados marinheiros Que voltavam ao tempo de criança Atentando Maria Japona no Beco do Bragança Longe da família, saudoso do lar O marujo buscava as primas na Praça Mauá Sou de mulher, sou raiz, usei caxangá Também tinha os Quincas socados não’algum apê E guarnecendo um Charlie Uniforme Fazendo um rasga e não sei mais o quê No Rio de Janeiro Fui um relegado Marinheiro Discriminado por um sistema oficial Quase estamental Se pensasse diferente e não aceitasse ser humilhado Um Ex Officio inventado destruía a carreira do coitado O marujo era dispensado sem consideração e nem um muito obrigado Voltei pro Sertão com minha lealdade, justiça, coragem e fraternidade Preservei a honra, a sanidade e a razão Muitos retornavam sequelados, alienados e desorientados A ditadura passou, não fui contaminado Pelo espírito de porco daquele tempo complicado Por onde andará o chaleira de plantão? Valeu a pena prejudicar o seu irmão?