Eu vim numa procissão Vagando pelas estradas Uma procissão gigante Multidões desgovernadas Fomos abandonando os campos Seguindo pras capitais Pra construir edifícios Pra ver se ganhava mais Gente que fugiu das secas Geadas de inundações Que deixaram seus arados, inchadas, foices e facões Eu vim nessa procissão Vagando pelo caminho Uma procissão gigante Multidões em desalinho Fomos abandonando terras, rebanhos e plantações Pra fabricar parafusos, rolamentos, fios e botões Gente que fugiu do campo, desconfortos do sertão Pra construir os seus barracos entre as nuvens da poluição Foi vagando a procissão Em rumo a cidade Cada um com suas dores, esperanças e saudades Hoje são muitos para comer E poucos para plantar Na corrida atrás do ouro ninguém parou pra pensar Que são juros sobre juros Atrasos de prestações E os sonhos do futuro ante as telas das televisões Vou seguindo a procissão Procurando uma saída Uns atropelando os outros entre as ilusões perdidas Muitos a reclamar e poucos a resolver Na luta pelo conforto ninguém mais quer se entender É melhor voltar pro campo Retomar a plantação Pra ter menos parafusos e mais arroz e feijão