Trabalhar menos! Trabalhar todos! Produzir o necessário! Dividir a produção! Trabalhar menos! Trabalhar todas! Produzir o necessário! Dividir a produção! Mãos cansadas da costureira Tece os trajes do terror Num galpão gelado e obscuro Produz centenas de casacos a todo vapor Mas o que importa do casaco é a venda E não o seu calor Num subúrbio em Bangladesh Ou em qualquer periferia Tantas vidas desfiadas Linha, agulha e agonia O mercado é pai do crime Tece um ciclo doentio O casaco é pra vitrine (E quem produz?) E quem produz morre de frio Trabalhar menos! Trabalhar todes! Produzir o necessário! Dividir a produção! No vai e vem da bicicleta Rasga o asfalto o entregador É refém da própria meta O algoritmo é o chicote que se aprimorou Seu pedido está chegando até você Desfrute esse sabor Rappi, Ifood, Uber Flash Qual o segredo da magia? Sanguessugas vão nas costas Rango quente, boia-fria Pedalando entre os destroços Da cidade em decomposição Num balé de marcas mortas Desfilando em procissão Bárbaro mangue chamado mercado Lágrima, sangue, suor Embalado a vácuoe aos cacos A classe se olha, mas não se vê Rasga o peito esse veto concreto A coisa é sujeito, a pessoa, objeto Tudo ao avesso, o fim é o começo Quero ter olhos pra ver Escravo de ganho (eu) Quanto eu ganho? Meu suor escorrendo na testa Meu sangue tingindo o asfalto Eu preciso cumprir minha meta Na festa do filho do patrão Com canhão, querendo meu salário No capitalismo, úteros são fábricas Onde nascem os operários Sonhei que tava em Havana Com meu mano Che Guevara E se fosse assim O amanhã não seria tão urgente Meu camarada Trabalhar menos! Trabalhar todos! Produzir o necessário! Dividir a produção! Trabalhar menos! Trabalhar todas! Produzir o necessário! Dividir a produção! (Produzir o necessário! Dividir a produção!) Corpo e alma, tudo dói Minha cabeça atormentada Corpo e alma, tudo dói Eu sinto a vida envenenada Outra forma de vida! Da insurgência surgirá! Outra forma de vida! Procurei um remédio alguma solução Que pudesse me tirar desse abismo O doutor me receitou uma revolução Pois me disse que eu sofro Me disse que eu sofro é de capitalismo Trabalhar menos! Trabalhar todes! Produzir o necessário! Dividir a produção! A nossa força criadora sequestrada nada cria (Trabalhar menos! Trabalhar todas!) A nossa força criadora crescerá na rebeldia (Trabalhar menos! Trabalhar todes) Somos gados de corte a mando de um monstro que nunca, nunca se sacia (Trabalhar menos! Trabalhar todos!) E só teremos outra sorte cultivando a morte da mercadoria Produzir o necessário! Dividir a produção! Produzir o necessário! Dividir a produção!