Minha voz vem dos gritos de negros escravos Vem dos povos aflitos de revolução Do gemido da fome que grassa o nordeste É a veste do eco do primeiro som Minha voz vem dos ventos que agitam oceanos Desde mil novecentos, bem antes do nada Vem do brado guerreio dos Deuses do Olimpo É o garimpo do verbo dos símios, primatas Minha voz vem das selvas do guizo de cobras Vem do canto dos rios, da fera acuada Do zunido da flecha de um tucarramãe Do som que produz o coração do astronauta Minha voz vem da obsessão dos poetas Vem dos músculos fortes de um estivador Dos filósofos loucos, visões dos profetas Do choro do bebê na hora do parto Minha voz vem da soma de todas as eras É meu único meio entre o bem e o mal Do machado de pedra ao computador É o alívio da alma na corda vocal