Na sorveteria da esquina, um sino anunciava a entrada E o mármore gelado guardava a cor de cada jornada Um copo de cereja, um creme, um favo de mel E o gosto da infância era um pedaço do céu Debaixo do toldo listrado, o tempo corria sem pressa E cada colherada era uma doce promessa Na prateleira empoeirada, a fita de plástico e magia A vídeo locadora, o templo da nossa alegria Um drama, um futuro, um herói pra escolher Rebobinar a fita era parte do prazer Com a capa na mão, um tesouro a levar Um filme que o acaso nos pôs a encontrar E a gente era feliz e não sabia No eco da praça, quando a tarde caía Em cada encontro, em cada canção O desconhecido era a nossa direção Éramos felizes sem saber por quê Naquele tempo que a vida levou, pode crer O cinema gigante, um palácio de veludo e esplendor A tela imensa, um portal pra um mundo de cor As luzes se apagavam num silêncio profundo E por duas horas, viajávamos por todo o mundo O cheiro da pipoca no ar a flutuar Um beijo roubado no escuro do lugar A praça da cidade era o nosso coração pulsante No banco de madeira, um sonho de amante E nos bailes do clube, ao som da canção Rodopiava a vida na nossa primeira paixão Sob o céu estrelado, segredos a partilhar Jurando reciprocamente o tempo nunca passar E a gente era feliz e não sabia No eco da praça, quando a tarde caía Em cada encontro, em cada canção O desconhecido era a nossa direção Éramos felizes sem saber por quê Naquele tempo que a vida levou, pode crer Hoje, a tela é fria e cabe na palma da mão O sabor é sintético, não tem mais emoção Não há mais o mistério, o risco da esquina Apenas a certeza que a saudade ensina Saímos sem bússola, com o peito a arder Pois a felicidade estava em se perder E a gente era feliz e não sabia No eco da praça, quando a tarde caía Em cada encontro, em cada canção O desconhecido era a nossa direção Éramos felizes sem saber por quê Naquele tempo que a vida levou, pode crer