No verso sou o preto Na prosa sou do gueto Na pura cadencia que o samba traduz É tijuca vencendo preconceitos Carolina Maria de Jesus O azul do céu coloriu Bitita O Sol tingiu capins em dourado Jardins perfumavam no interior Folguedos e fulgores mineiros Andores da fé, mil contos de avô Alumiados por candeeiros No doce colo de mãe e dinda Na pele, um destino traçado Brota o café, e Carolina só provou O amargor da falsa liberdade Retinta feiticeira não quis um senhor Pra ser a Maria na cidade Garoa concreta, roteiro cinzento Girassóis de cimento Na fresta, mazelas, é festa na favela Reciclando os sentimentos Garoa concreta, roteiro cinzento Girassóis de cimento Jesus e o desprezo, no quarto do despejo Poesia com pertencimento Palavras são navalhas afiadas Ela usava contra os vícios do poder Se viu repaginada e negava quem lhe queria A serviço da hipocrisia Não lhe vestiram fardões Mas o seu pretuguês lhe fez escritora imortal Verbo da consciência Verso calando canhões Sem perder a essência Exemplo aos corações E no alto do morro Empunhem caneta e papel Meninas e meninos do Borel