Dizem que a gente quando vem ao mundo já chega marcado por nosso destino Essa é a história de um sertanejo já faz muito tempo, eu era menino Naquele tempo pouco existia, não tinha estradas, só trilhas nas matas Luzes das estrelas, Lua e Lampião, água só de poços, rios e cascatas Uma notícia pra chegar ou sair somente por carta e tempo levava E para tirar da roça o mantimento um cesto nas costas a gente carregava E assim vivia aquele sertanejo, esposa e filhos, querendo de vencer O filho mais velho partiu pra cidade e anos passaram sem dele saber Até que um dia receberam uma carta dizendo assim seu filho vai casar Venham assistir o nosso enlace que na rodoviária eu irei buscar Ele então saiu, levando um filho tinha mais ou menos doze anos de idade Mesmo ele sendo um analfabeto, chegou bem certinho naquela cidade Depois do enlace saiu a procura de uma encomenda pra fazer sabão Era soda cáustica, veneno corrosivo comercializada sem fiscalização Comprou uma lata, colocou num saco para no outro dia voltar pro sertão E no outro saco farofa com frango lata parecida pra fazer refeição Porém, no pernoite estava muito escuro, disse ao filho vá comprar uma vela Enquanto esperava abriu justamente a lata de soda, e mandou para goela Voltando o menino vendo a tragédia procurou ajuda e pouco conseguiu Pois só existia pequena farmácia e no outro dia com seu pai seguiu Para sua casa, papai sem falar somente por gestos se comunicava Depois de um tempo ao filho da cidade pediram ajuda em carta registrada E foi atendido aqui em Curitiba, foi na santa casa, internado e operado E tempos depois voltou pro interior, mas suas feridas precisavam cuidados E chegando viu a triste pobreza que esposa e filhos haviam passado E mesmo doente, sem forças, lutou no cabo da foice, enxada e machado Para não deixar faltar à comida trabalhou igual um burro de carga E por vinte anos ele viveu assim sofrendo as dores, teve vida amarga Essa história não é invenção minha, ela é verdadeira, muitos anos faz Pedro Barbosa era o seu nome, digo orgulhoso era meu próprio pai