É tá todo mundo correndo Correndo pra chegar em primeiro, pra ser o dono da rua, o dono da Lua Enquanto isso, aqui embaixo, a barriga ronca mais alto que o discurso no plenário Dizem que o topo é solitário, né? Mas o fundo do poço ah, esse tá superlotado se liga só O cenário é cinza, a tela é 4k O político briga por poder, quer ver quem vai mandar É esquerda, é direita, é o caos, é a treta enquanto a criança na sinaleira sonha com A, B, C e a caneta Eles discutem a meta fiscal, o PIB, a taxa Mas a fome não espera o decreto, a fome esculacha É o banquete no palácio, regado a vinho caro E o povo pagando a conta com o suor e o desamparo Tem startup de unicórnio valendo bilhão Tem gente catando lixo pra garantir o pão A tecnologia avança, o app te entrega tudo Menos a cura pra ganância que domina o mundo Desigualdade não é azar, irmão, é projeto Onde o lucro do prédio alto esmaga o teto do barraco sem afeto Não é pelo céu prometido, nem pelo inferno temido Minha prece é silêncio, num mundo de ruído Não quero ser o dono do mundo que tá na UTI Eu quero entender o propósito do que eu vim fazer aqui Servir e não ser servido, essa é a missão Dependência total do eterno, e não do cifrão E não me entenda mal, enriquecer não é pecado Pecado é subir pisando em quem tá do lado Pecado é o lucro, ser o Deus, o altar e o credo É vender a própria mãe pra não perder o enredo Você tem uma vocação, um chamado do eterno Mas trocou sua essência por um terno moderno? O mestre lavou os pés, foi sacrifício vivo E você querendo aplauso, querendo ser o executivo do quê? De um planeta que tá em perdição? Acumulando tesouro onde a traça e a ferrugem fazem a refeição O pobre de conhecimento, no desespero, se vende Faz qualquer negócio, a alma ele suspende Paga pela bênção, compra o óleo ungido Achando que Deus é máquina de dar pedido Satisfação momentânea, o fast food da fé Esquece que sem espírito, você não fica em pé Não é pelo céu prometido, nem pelo inferno temido Minha prece é silêncio, num mundo de ruído Não quero ser o dono do mundo que tá na UTI Eu quero entender o propósito do que eu vim fazer aqui Servir e não ser servido, essa é a missão Dependência total do criador, essa é a oração Olha o massacre, o trator passando por cima O frágil não tem voz, não tem vez, não tem rima O sistema mastiga a carne e cospe o osso E a gente com a corda apertando no pescoço Buscam o poder como se fossem imortais Constroem impérios, muralhas e cais Mas no fim da linha, o caixão não tem gaveta E diante do criador, não vale a sua etiqueta Sua marca, seu status, seu like, sua view Nada disso importa quando o coração tá vazio A oração verdadeira não é barganha, parceiro Me dá isso, me dá aquilo, enche meu tinteiro não É seja feita a tua vontade, na dor ou na bonança Porque só ele sabe de todas as coisas, ele é a esperança Não é medo do fogo, nem ganância pelo ouro É saber que sem ele, a vida é um choro Um choro sem consolo, um grito no vácuo Então desce do pedestal e sai desse buraco A gente vê o grande esmagando o pequeno E pergunta: Até quando? Mas a resposta tá na vocação Se o propósito for só ganhar, cê já perdeu O amor ao dinheiro é a raiz, não a árvore Corte a raiz Seja o sacrifício em função da vida do próximo Isso é revolução O resto o resto é só vaidade É dependência Total dependência Do criador eterno Que sabe de todas as coisas Gabriel, mandou a letra, pensa nisso