O retrato da favela tem só uma imagem Mas cada olho tem sua interpretação pra essa imagem Meus olhos veem quando eu olho pra favela Almas tristes, sonhos frustrados Esperanças destruídas, crianças sem futuro Vejo apenas vitimas e dor. Os olhos do gambé veem traficantes com AR15 e lançador de granada Vagabundas drogadas, mães solteiras Desempregados embriagados no balcão do bar Adolescentes viciados, pivetes com pipa com rojão Avisando que os homi tão chegando Veem em cada barraco um esconderijo, uma boca Em cada senhora de cabelo branco uma dona Maria mãe de bandido Os olhos do político veem presas ignorantes, ingênuas Marionetes de manuseio simples, a faca e o queijo O passaporte pra Genebra, o talão de cheque especial O tapete vermelho pra loja da Mercedes O tamanco, o vestido, o modis e o vibrador da sua puta. Veem o mar de peixes cegos que sempre mordem o mesmo anzol Os olhos do boy, esses ai, esses não veem nada Nenhum problema, a fome, os aviões com droga, o tráfico de arma As escolas sem telhado, lousa, professor, segurança O jovem sem acesso a livro, quadra esportiva, centro cultural Não veem os ossos no cemitério clandestino As vitimas da brutalidade da policia O povo esquecido e desassistido Os olhos do boy só são capazes de enxergar na imagem da favela o medo O medo em forma de HK na ponta do seu nariz E você, truta, o que seus olhos veem quando olham pra favela?