Não acredito que eu cheguei nesse ponto! Tô com um refém chorando em cima do seu filho morto Manchei de sangue o quadro de Picasso Fiz a torneira de ouro pingar lágrima no palácio No que foi que o crack me transformou? Me estranhei dando soco na cabeça do doutor Fita dominada, já catando os eletrodomésticos Pivete do caralho gritou morreu, no meu reflexo Tiro à queima-roupa, parou o coração Promovi um velório na suíte da mansão Doente pela pedra, apertei o gatilho da PT Mas nenhum jurado vai entender Nenhum juiz vai me absolver O pai grita: Por que não me matou no lugar dele? Vendo carne do filho colada na parede Enquadrei na intenção de dólar no cofre Não pra ouvir a vadia da mãe implorar: Pelo amor de Deus, não morre! Se arrepender não consta, o vizinho deu alarme Pro Morumbi vem o Exército, até a Swat Pela janela já escuto a sirene dos lambe-saco de boy Vindo na febre de me transformar no troféu do PM herói Se pá minha coroa vai ver no noticiário Meu corpo metralhado e o resgate juntando os pedaços Vai lembrar que eu bati nela pra fumar TV e o rádio Vai dar graças a Deus de me ver no caixão lacrado Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir Só não quero mais moleque morrendo assim Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir Só não quero mais moleque morrendo assim Eu era só outro moleque jogando bola Descalço, fazendo gol na porta da escola Carente de incentivo de um espelho Hoje não tem aula, o professor não veio Querendo brinquedo, carinho de alguém Não paulada na cara, do monitor da Febem Não queria um rifle FAL aos 12 anos Eu não queria achar que o herói era o assaltante de banco Mas que cusão que condena foi lá pra ensinar: Aí moleque, a vitória só vem se estudar ou trabalhar Aí moleque, não faz o que o sistema quer! Não borbulha sua vida nessa porra de colher! Pelo contrário, deram cachimbo Acionaram a contagem regressiva pro meu homicídio Derreti o meu tênis, relógio, jaqueta A diversão da sexta virou uma doença Agora é oitão na padaria: Cala a boca tia! Abre logo o caixa, traz minha cara de alegria! Entrei no hall da fama dos pedidos da polícia No papel veio bica, dei 5 na barriga Madrugada tem tiro, minha família vai tremer Dar busca em hospitais, IML, DP Meu irmão, revoltado de ver minha mãe chorar Sonha com o juiz batendo o martelo pra me condenar Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir Só não quero mais moleque morrendo assim Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir (sei que vou morrer) Sei que vou morrer, não posso fugir Só não quero mais moleque morrendo assim O menino de olho azul não vai passear domingo O Playcenter foi deletado pelo meu cachimbo Que também roubou meu sonho de jogar no Pacaembu: O craque perdeu pro crack no Grajaú O que que eu faço, acredito no negociador? Ou mato logo todo mundo e me mato, morou? Sem ilusão, não tem colete nem carro Vão me matar na viatura asfixiado O Brasil não se comove se sou eu que peço passe Eu sou o ladrão doente, ó o boy na reportagem Aí moleque, o crime é só desgraça Choro na cobertura, choro na sua casa Não dá futuro roubar um carro-forte Não arrisque a sua vida pela porra do malote É triste saber que minha mãe não vou ver mais Nem beijar minha mina, nem ouvir 'papai' Quanto vale agora a merda desse cofre? Rubi, diamante em troca da minha morte E o sistema dá o cachimbo pra beber seu sangue Pra te ver morrer no BO, tentando pagar o traficante Meu coração de ódio queria paz, acredite Mas agora sou eu e o atirador de elite Tá a dez metros da janela e atira muito bem Vai matar a vítima do crack e seu refém!