Havia um pensamento nascendo Tão valioso quanto o ouro sob o altar A Palavra do Mestre corria mansa, perfeita Como um rio prestes a se revelar Mas mãos humanas rasgaram o instante Interromperam o próprio Autor da vida E o Verbo, para não perder o rumo Inclinou-se ao chão para não se irar Não era sobre o que escreveu Mas o porquê de escrever Pois cada frase que o Céu prepara Carrega sementes demais para perder E o Cristo, tão homem quanto santo Sentiu a ira bater na porta E preferiu escrever por um momento Para não ferir, nem interromper o julgamento Aqueles homens não sabiam O abismo que abriram ao intervir Pois interromper o Eterno É tocar o sagrado sem discernir Mas Ele escreveu, escreveu para não se irar Escreveu para guardar o pensamento que vinha do Pai Escreveu para que a graça respirasse Antes da justiça falar E da areia subiu a sentença Que desarma todas as mãos Quem nunca pecou atire a primeira pedra E o Verbo voltou a escrever o seu sermão Se Ele tivesse respondido sem silêncio Se a palavra viesse sem pausa Eles teriam secado diante Dele Como a figueira que não tinha causa Mas o Mestre freou o próprio fogo E desenhou misericórdia no chão Para que homens duros como pedras Ouvissem o peso do próprio coração Ele escreveu para não se irar Escreveu para continuar o que o Céu queria falar A areia guardou o discurso interrompido E a graça venceu sem argumentar A Bíblia é simples como o gesto de Cristo Nós é que insistimos em complicar