As barbas ao vento Alpargatas de pó Arreios sovados Das longas troteadas Horácio tem penas De quem anda só Levando os pessuelos Lotados de nada Horácio sesteia No lombo da estrada Mateia ao silêncio Nas águas da sanga Seu poncho tem luas E estrelas rasgadas Por garras dos tempos E das japecangas Os bois da carreta Morreram na canga As flores da estrada Viraram espinhos E a vida que tinha Um sabor de pitanga Salgou-se com o pranto Que verte sozinho A pele tostou-se No sol dos caminhos E a lua do campo Branqueou-lhe as melenas O sonho timbrou-se No sangue dos vinhos Deixando somente Seus rumos e penas Horácio tem sombras Do ontem apenas Um mouro judiado De tempo e andança O canto cansado Das velhas chilenas E o jeito vazio De quem perde a esperança