Surge a boieira na lagoa morta Navega mansa e sem mover-se, verte Como se a alma da lagoa inerte Se levantasse pra bater-lhe a porta E me permuta num silêncio insone Da vila velha que se foi embora De um salso morto que já hoje não chora E da ternura de fugir dos homens Disse a boieira que já foi feliz E a chuva um dia pode bem sabê-la Quando que chorava uma ou outra estrela Dando a lagoa quantos lambaris Mas hoje volta pra brincar nas águas E refletir o que ficou do dia E encontra vida que restou vazia Boiando junto aos lambaris e mágoas Outras estrelas não serão vindouras Já que o espaço se tornou pequeno E a própria água já virou veneno Para o sucesso de colher lavouras Mais triste o tempo que o progresso voa Mais triste o homem que não tem estrelas E não consegue mais reconhecer Num céu escuro que já foi lagoa