Não vá tão depressa, que eu fico sozinho Vá mais de mansinho Que a gente tropeça por este caminho Mas se anoitece e lua não temos Já quase não vemos Depois de escurece aqui ficaremos E eu quero e não posso, que eu não comi nada Minha mãe de apressada Ainda antes do almoço meteu-se à jornada Mas filho desterra já essa lembrança Que a gente se alcança O alto da serra depois já não cansa Chegar à altura talvez não consiga Que a fome me obriga Mas sinto tontura de tanta fadiga Ficar num deserto é um desatino Tu tão pequenino E nós já tão perto do nosso destino E mãe, que tristeza não ter uma choça Que a gente não possa Não falo em riqueza mas ter casa nossa Em baixo na aldeia em casa do cura Se alguém o procura Tem cama e tem ceia até com fartura Tal cura é um santo, uma alma bem nobre Se assim trata o pobre Que deus lhe dê tanto, que sempre lhe sobre E dizem que às portas dum santo velhinho Costuma um anjinho Vir a horas mortas pôr pão, carne e vinho E ele reparte depois p'la gente Já vou mais contente Talvez 'inda farte e durma bem quente