Meu poncho emponcha lonjuras batendo água E as águas que eu trago nele eram pra mim Asas de noite em meus ombros sobrando casa Longe das casas ombreada a barro e capim. Faz tempo que não emalo meu poncho inteiro Nem abro as asas de noite pra um sol de abril Faz muitos dias que eu venho bancando o tino Das quatro patas do zaino pechando o frio. Trocam um compasso de orelha a cada pisada No mesmo tranco da várzea que se encharcou Topa nas abas sombreras que em outros ventos "Guentaram" as chuvas de agosto que Deus mandou. Meu zaino garrou da noite o céu escuro E tudo o que a noite escuta é seu clarim De patas batendo n'água depois da várzea, Freios e rosetas de esporas no mesmo trim! Falta distância de pago e sobra cavalo Na mesma ronda de campo que o céu desagua Que tem um rumo de rancho pras quatro patas Bota seu mundo na estrada batendo água; Porque se a estrada me cobra, pago seu preço E desabrigo o caminho pra o meu sustento Mesmo que o mundo desabe num tempo feio Sei o que a asas do poncho trazem por dentro.