O sujeito passou a vida escondendo a cor De chapinha no cabelo querendo ser doutor Olho verde pose fina perfume francês Mas quando viu a cota virou preto de uma vez E disse Voinha da minha bisa era preta sim sinhô Eu tenho direito doutor Nunca soube quem foi Ogum nem passou no dendê Corre de tamborim e não sabe nem porquê No São João dança jazz canta Green Day no axé Mas quis ser filho da África quando viu a UNIVASF na fé Só falta agora dizer que é quilombola porque gosta de feijão É cota de vergonha é cota de safadeza Branco de olho claro mentindo com leveza Rouba a vaga de preto favelado E ainda sai da igreja com o dízimo pago É cota de vergonha é golpe no povo Faz post no Instagram dizendo novo Brasil de novo Mas no domingo tá de terno no sermão Depois vai no fórum com a carteirinha na mão Na quebrada a gente sangra pra ter um lugar Mas tem playboy falsificado que quer se infiltrar Com RG da bisa preta e foto filtrada Toma a cadeira que era pra uma alma calada E depois ainda diz que é meritocracia Meritocracia do quê irmão Da mentira bem penteada A luta é de séculos a dor é de aço Mas o malandro de shopping pega atalho e passa fácil Vai ser doutor sim mas de hipocrisia Cura a febre mas espalha a covardia Doutor com diploma sujo de cota roubada não salva nem unha encravada É cota de vergonha de cinismo educado De branco que só é preto na hora do resultado Mas quem viveu a fome e a opressão de verdade Sabe que justiça não nasce na universidade É cota de vergonha é golpe de gravata Racismo reverso só se for piada barata Boa sorte doutor com esse início moral Quem nasce corrupto termina no jornal Mas vai com Deus e com CRM que é pra gente saber onde não ir