Sou um escritor meio tímido, meio sereno Cultivo a ideia antiga nos tempos modernos A minha poesia propõe o resgate da angolanidade A minha alegria impõe-se ao tempo da liberdade Estas mãos são minhas, e não envelhecem jamais Porque escrevem sobre a paz diferente dos demais Escrevem com a mesma seriedade com que brincam Como Theophile Obenga, Aimé Césaire, Wole Soyinka Se escrever como escrevo é um crime, enfim Que castigo ou punição recairá sobre mim? Sou como sou, enquanto a poesia ditar o tempo Sou como sou, enquanto a poesia dar o exemplo Quando escrevo, não me calo e não pretendo me calar Enquanto quem me ouve, não dar sinais que vai mudar Estas mãos são minhas, transbordando enquanto fonte A minha acção é a das palavras, a poesia que vos conte As minhas mãos não são apenas para abraçar As minhas mãos não são apenas para lutar As minhas mãos são o alívio quando tudo a volta estressa As minhas mãos são almofadas para repousar a cabeça Tenho quarenta e quatro anos e um metro de altura A questão é que há pessoas com a mesma estatura Receio ser confundido, mas o que fazer Gosto de escrever, não sei outra coisa senão escrever Acho que serei preso por pensar diferente Acho que serei preso por escrever pela minha gente Estas mãos são o único instrumento Que uso para transcrever o que me vai no pensamento As leis dizem que os homens não podem escrever A menos que tragam algo no coração para dizer Vejo tudo o que vejo, ouço o que ouço Escrevo tudo o que escrevo, posso tudo o que posso Eu sou as minhas mãos, não sei se entenderão Eu sou as minhas mãos, quer queiram quer não Eu sou as minhas mãos, na construção da liberdade Nada mata mais um homem do que a responsabilidade As minhas mãos não são apenas para abraçar As minhas mãos não são apenas para lutar As minhas mãos são o alívio quando tudo a volta estressa As minhas mãos são almofada para repousar a cabeça