Senhora dos Descampados Ouve essa prece a lo largo Que eu rezo em frente ao fogo Solito com meu amargo Senhora dos Descampados Escuta aquilo que falo Com meu olhar estendido Que já nasceu de a cavalo Eu sou campeiro e me habito Nesse galpão de invernada Um posto humilde, mas donde Deus sempre teve morada Não sei o terço e na igreja Não fui mais que umas três vez Mas minha fé me acompanha nos trinta dias do mês Rezo em silêncio nos campos Na sombra de algum capão E, embora eu não fale nada, escuta a minha oração Livra o campeiro do tombo, do coice e do manotaço Desvia o fogo do raio e as contra voltas do laço! Junto a esta cruz solitária, lhe deixo velas acesas Pra lhe pedir que não falte, nunca, bóia sobre a mesa Trago outra cruz de Lorena, dependurada no peito Na bendição que me guarda, em ser cristão, deste jeito Na minha reza de campo, faltam palavras, eu sei Mas tem a fé, verdadeira, por tudo que eu conquistei Te faço imagem em meus olhos, te vejo plena de céu E frente a ti, me condeno, me calo e tiro o chapéu Embora cuide dos campos, encontra um tempo pra mim Eu nunca perco a esperança, alçada pelos confins Eu sei que vida da gente, tem sempre um rumo traçado Por isso, rezo e lhe peço, proteja estes descampados