Às vezes eu recordo meus sonhos de menina De ter uma boneca de olhos cor do mar Com vestido de luxo, de porcelana fina Igual à das meninas mais ricas do lugar A bruxinha de pano que me embalava o sono Mamãe fez de retalhos de um velho cobertor Os olhos com frutinhas de um pé de cinamomo Parece que entendia meu sonho multicor (E cada vez que eu dormia Minha bruxinha aparecia em sonhos Rosto farrapo, pranto de trapo Me censurando com olhar tristonho "A porcelana cai e se quebra E eu mesmo feia, jamais quebrarei Por ser de trapos, pode estar certa, Pelos invernos te aquecerei") Conforme o tempo passa, os maricás florescem No campo do carinho em cada coração As pessoas se amam, se tocam, mas se esquecem Igual à porcelana quebrada pelo chão Por isso hoje me sinto a bruxinha de pano Com olhos de carinho, sem ter pra quem olhar Tecida nos farrapos de tantos desenganos Só bruxinha de pano, sem ter com quem falar (E cada vez que eu dormia Minha bruxinha aparecia em sonhos Rosto farrapo, pranto de trapo Me censurando com olhar tristonho "A porcelana cai e se quebra E eu mesmo feia, jamais quebrarei Por ser de trapos, pode estar certa, Pelos invernos te aquecerei")