Como ponteando o progresso Surgiste um dia alambrado Braço de pinho encordoado Sobre o lombo da coxilha Um moirão de curunilha Sinchando cordas de aço Que foi o ceio de laço Da velha raça caudilha Estendidos na paisagem Como dantesco esqueleto Os teus fios de arame preto Causaram constrangimento E até o assobio do vento Entre os buracos de pua Encheu o pampa charrua D'um som triste e agorento E num lamento soturno Que o eco reproduziu Tinindo de fio em fio Esse bárbaro som novo Foi o primeiro retovo Na liturgia das grotas E deu as primeiras notas Dos funerais do meu povo Pois quando aqui tu surgistes Igual aparição infame O guasca com cerca de arame Não conhecia fronteira E só tinha por barreira Além do rancho pampeano Os arenais do oceano E as pedras da cordilheira A velha taipa de pedra Matastes sem compaixão E a cerca de varejão Também botaste de lado Quanto atalho terminado E quanto potro de estouro Deixando tiras de couro No teu arame farpado Cercastes de corredores As velhas estradas reais E nos escampos natais Estirado sem critério Pareces um cemitério De cruzes enfileiradas Assinalando as ossadas Do velho pago gaudério Por isso cerca de arame Eu nunca gostei de ti Pois o pago onde nasci Não precisava tapumes E a prisão que tu resumes Se nos trás prosperidade Quase mata a liberdade Que é lei dos nossos costumes Mil vezes te desatei Pra ver a China domingo Pois onde meto meu pingo Nunca dou volta por nada E arrombei muita invernada Cortando e deitando trama Sem jamais respeitar fama De nenhum venta rasgada Velho alambrado gaúcho De três, quatro ou sete fios Se nem os cerros e os rios Fugiram-te a tirania Minha guasca sesmaria Duvido que tu arranques Pois ninguém crava palanques Nesta minh'alma bravia