Alcance os avio de fogo, quero prender o meu pito Pois assim como eu ia lhe dizendo patrãozito, sempre o mesmo jogo E como ia dizer qualquer povoeiro desses cara de idiota Que nunca tomaram Sol num lombo de coxilha Vem com uma lenga-lenga e uma porção de lorotas A dizer que não há mais gaúchos Que os gaúchos foram nossos avós, foram nossos pais Que o verdadeiro não existe mais, é pura peta! Por não saber esses trompeta que nunca se meteram em pendenga Nem sabem quando o Sol avisa a seca, não aguentam um pulo de bagual Não conhecem o vento que traz chuva, nem qual é o pasto que faz mal O gaúcho sempre a de viver, enquanto o rio grande não morrer Em campo fino o potrilho é mais lindo tem mais quarto e encontro Anda sempre escramuçando e tem o pelo reluzindo É que a invernada é puro campo flor O rebanho que pasta em terra negra, a lã tem mais valor E o rio grande é campo bom Em trina e cinco o gaúcho mostrou o que ele valia Aguentou o tirão, e noventa e três chegou E quanto gaúcho apareceu e deu rinha e morreu como ninguém pensou E diziam sempre, o gaúcho se acabou! E veio o vinte e três, e o que o gaúcho fez? Quanto caboclo bicharedo chegava rindo como num brinquedo E entreverava na peleia, como quem entre num bochincho Não senhor, a coisa esteve feia! Quanto gaúcho deixou prendas no seu pago E foi assoviando pra coxilha, e morreu a sorrir no entrevero Como quem chupa um amargo ou toma um trago Em vinte e quatro o mesmo se passou O rodeio era geral mas só o gaúcho é que parou E quer saber por que? Tá na massa do sangue deste povo Porque o gaúcho é como o cinamomo, duma ponta de raíz Brota de novo e um outro cinamomo ficará de pé Não acaba não senhor, há de sempre viver lindo e sestroso Nem o tempo há de vence-lo, um gaúcho se mata e não se vence Mas ele é mesmo que o capim teimoso, se geada mata no inverno Na primavera volta mais viçoso!